A senhorinha beijoqueira dos cabelos de algodão

Todos os dias, Gilcelânea fazia questão de caminhar em sua rua só pra ganhar um beijo, ainda que de longe, da simpática senhorinha dos cabelos de algodão.

Ao contrário de todas as casas, a sua, de número 42, era a única que floria, ainda que não fosse tempo de florir.

Mal cabiam as flores, que precisavam ser levadas dia a dia por um carrinho de mão, que de tão belo, parecia mais uma decoração do que objeto de construção.

Era batata, bastava dar alguns passinhos e lá estava dona Hermenegilda de plantão, à espera de mais um alvo. Seu beijo era certeiro, atingia bem no fundo da alma de quem por lá passava.

Alguns dias se passaram. Aquele jardim, que mais parecia um arco-íris de tão colorento deu lugar a um marrom seco e espinhento.

Não havia mais rosas, não havia mais beijos. A velhinha se foi, sem ao menos se despedir. A caminhada de Gilcelânea agora andava a passos largos, duros e sem graça.

(Imagem criada por meio de IA do ChatGPT / Conto inspirado em fatos reais, escrito pela jornalista e escritora Claudia Rato, autora do livro de contos Pra mim você morreu. Hé uma versão em vídeo desse conto, narrada pela autora, em sua conta no TikTok)

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