Quem diria que um balão de gás causaria tanto alvoroço em uma festinha infantil?
Emanuele e Astolfo estavam felizes da vida com a celebração de aniversário de um aninho da única filha do casal.
Tudo pronto, churrasqueira ligada, enfeites da personagem preferida da bebê por todo o ambiente, convidados à espera dos pais, mãe arrumadinha, feito madame, após ter passado horas no salão e o pai, tranquilão, com o seu bermudão, camisa regata e chinelo nos pés.
Ambos ainda estavam em casa, prestes a sair em direção ao salão do condomínio quando, de repente, o sinal do celular do marido tocou. Como o rapaz estava no banheiro, a esposa foi ver de quem se tratava, já que poderia ser alguém na portaria aguardando autorização para entrar, assim ela pensou.
“Meu amor, é uma pena não poder te ver hoje, dê um beijo na nossa pequena por mim”.
_ Meu amor? Que raio de “meu amor” é esse? Astoooooolfo, seu desgracento, que história é essa de “meu amor”? Sai desse banheiro agora.
_ Não sei do que você está falando.
_ Como não sabe, seu cara de pau de uma figa, olha isso aqui.
_ Quem te deu o direito de mexer no meu celular?
_ Quem te deu o direito uma pinoia! Essa porcaria tocou e fui ver quem era, seu idiota.
No momento em que a dupla se desentendia, a vizinhança inteira presenciava a cena, alguns disfarçadamente, enquanto outros faziam questão de mostrar que estavam lá, de camarote, vendo o casal, de família exemplar, armando o maior barraco na porta de casa.
O penteado que Emanuele fez e gastou uma fortuna foi por terra, já que a moça se descabelava, tamanha fúria que sentia.
_ Você quer saber mais? Eu também tenho um amante, pronto, falei. E ele é muito melhor que você em tudo.
_ Ah, sua sem-vergonha, quem é esse babaca? Você está blefando, só pode!
A gritaria era tamanha e cada vez mais aumentava a plateia para ver a discussão dos dois.
O celular do marido tocou novamente e antes mesmo de ele ver a mensagem, a esposa voou por cima do rapaz e conseguiu pegar seu aparelho.
Era mais uma mensagem da mesma pessoa anterior, o que deixou a mulher mais irritada, já que não aparecia nem a foto, tampouco o nome de quem escrevia.
“Espero que o balão tenha chegado a tempo para me representar”.
_ Como assim? Essa lambisgoia ainda teve a coragem de mandar essa porcaria aqui pra festa da minha filha? _ disse Emanuele, olhando para um lindo e enorme balão de gás com o nome da aniversariante escrito em letras garrafais e uma foto da menina, presente surpresa endereçado à família.
_ Então foi essa vagabunda horrorosa que ainda mandou essa droga aqui para a minha filha? Quer saber, não vai ter mais balão, não vai ter mais festa, não vai ter mais droga nenhuma aqui. Some daqui, seu cretino – disse a esposa enfurecida e soltou o balão no ar, que se perdeu no céu em segundos. Em seguida, ela deixou uma mensagem de voz gritante para quem enviou as mensagens, de modo que todo o quarteirão ouviu.
“Olha aqui, sua vaca oportunista, tá mandando recadinho pro meu marido? Pois fique sabendo que ele é todo seu, eu já tenho outro muuuuito melhor que ele. Ah, e leve com você toda a família dele: a sogra insuportável, a cunhada fofoqueira e o resto da corja. E tem mais, fique sabendo que até hoje não descobriram o motivo da disfunção erétil do bonitinho aqui. Mas agora o problema é seu. Passar bem”.
Ainda desnorteado, sem entender quase nada daquela confusão toda, Astolfo pegou seu telefone. Ao ver o número que aparecia com a mensagem carinhosa, logo percebeu que se tratava de sua mãe, dona Isaura, um doce de criatura e que sempre gostou de surpreender a todos.
Sem tempo hábil de apagar a fala da esposa, a mãe do rapaz escutou tudo, tudinho.
_ Olha o que você fez, sua maluca, quem escreveu foi a minha mãe.
Totalmente sem graça e sem saber o que fazer diante de todos, Emanuele fingiu se tratar de uma encenação, improvisou um belo discurso em sua garagem enaltecendo a figura da sogra, a importância da família e dos bons costumes, e convidou todos os presentes para a festa, que acabou custando-lhe os olhos da cara, dado o triplo de participantes.
Só quem não engoliu muito bem essa história toda foi Astolfo, que ficou com uma pulga atrás da orelha com a revelação da mulher sobre sua suposta traição, mas preferiu se convencer de que tudo não passava de um mal-entendido. Será?