Tempo que voa, feito falcão

Não sei você, mas tô achando que o tempo tem passado muito depressa. Só não passa pra quem está preso ou pra gestante que sofre de insônia, ânsia, azia e vontade de matar alguém que, coitado, não tem nada a ver com o peixe. Sim, nunca ouviu falar que a grávida escolhe sempre uma vítima para odiar por longos e intermináveis nove meses? Pois bem, isso é fato.

Mas, voltando à cronologia que nos tem feito sentir tudo passar voando, feito falcão-peregrino, algumas situações me fizeram pensar nesse tema, numa segunda-feira de frienta.

Já era tarde, quase seis da noite, quando liguei nem me lembro mais pra quem, pra fazer não sei o que também, e a pessoa atendeu à ligação saudando-me com um bom dia, ao que eu a corrigi, com um sorriso que ela não viu, mas percebeu. Sem graça pela falha, a moça disse que nem tinha notado a hora, que passou tão rápido, e que já estamos em junho, daqui a pouco dia dos pais, fim de ano, Natal…

Ok, se fôssemos só nós duas a pensar nisso naquele dia estaria tudo perfeito, mas tudo parecia fazer questão de nos lembrar que a vida está caminhando na velocidade dois.

Um pouco mais tarde, fui a uma consulta médica, daquelas que a gente vai uma vez por ano e se dá conta de que mais uma primavera se foi. Logo que entrei na sala, a doutora recordou que parecia ontem que eu havia estado lá para fazer o mesmo de sempre. Com expressão cansada de quem trabalhara o dia todo, doze horas, me disse que o desânimo aparente nem era pela labuta mas sim pela festinha junina da escola dos filhos no sábado que passou. Tudo o que ela mais queria era que a segunda se transformasse numa sexta-feira e que junho virasse janeiro para gozar suas férias na praia.

Os exames também foram breves, ao menos pareceram. Na saída, a recepcionista já me orientou marcar nova consulta para o outono seguinte, ao passo que tomei um susto em já ter que me programar para algo que ainda vai levar um tempão para acontecer, aliás, tanta coisa pode mudar em um ano. Mas, ok, marquei, na expectativa de estar naquele mesmo local fazendo o mesmo de sempre e todos ao meu redor felizes, vivos e protegidos.

Ao passar pela catraca do prédio, o porteiro me saudou com um bom fim de semana. Aí eu realmente fiquei confusa. Será que o tempo está passando depressa ou nós é quem estamos apressando a nossa vida?

Rimos da confusão. Desejei a ele ótimos dias antes do tão esperado sábado e domingo e fui embora, em passos lentos. Entrei no carro, liguei o motor e saí, sem forçar muito o pé no acelerador pra ver se conseguia ganhar um pouco mais de tempo pra chegar a algum lugar qualquer sem pressa nenhuma.

(Imagem: Freepik – Texto: Claudia Rato, autora do livro Pra mim Você Morreu!)

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